sábado, 30 de novembro de 2013

E porque o frio já se sente.

Correm um para o outro de braços abertos,
exclamam ridentes: Até que enfim! Enfim! 
Ambos vestidos com agasalhos de inverno,
gorros de lã, 
cachecóis,
luvas,
botas,
mas só para nós.

Porque um para o outro estão nus.

Wislawa Szymborska

sábado, 23 de novembro de 2013

Se eu pudesse parar no tempo.

Se Eu Pudesse Trincar a Terra Toda

Se eu pudesse trincar a terra toda 
E sentir-lhe um paladar, 
Seria mais feliz um momento ... 
Mas eu nem sempre quero ser feliz. 
É preciso ser de vez em quando infeliz 
Para se poder ser natural... 
Nem tudo é dias de sol, 
E a chuva, quando falta muito, pede-se. 
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade 
Naturalmente, como quem não estranha 
Que haja montanhas e planícies 
E que haja rochedos e erva ... 
O que é preciso é ser-se natural e calmo 
Na felicidade ou na infelicidade, 
Sentir como quem olha, 
Pensar como quem anda, 
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, 
E que o poente é belo e é bela a noite que fica... 
Assim é e assim seja ... 

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos"

domingo, 10 de novembro de 2013

O quarto fechado.

" Acabávamos frequentemente a fazer amor. Sophie mostrava-se tão sequiosa disso quanto eu, e com o passar das semanas a casa começou a ficar erotizada, transformada num reino de possibilidades sexuais. O mundo dos demónios veio à superfície. Cada divisão da casa adquiriu a sua própria memória, cada lugar evocava um momento diferente, de tal maneira que mesmo no sossego da vida prática uma área especifica da carpete, digamos, a soleira de uma porta em particular, já não era estritamente uma coisa mas uma sensação, um eco da nossa vida erótica. Tínhamos mergulhado no paradoxo do desejo. A necessidade que tínhamos um do outro era inesgotável, e quando mais a saciávamos, mais parecia crescer. "

A trilogia de Nova Iorque
- Paul Auster

Gaivotas no quarto amarelo.



A gratidão é o único tesouro dos humildes.
William Shakespeare