eram nove da manhã.
ela sai de casa vestindo a mesma roupa.
está esgotada. a alma pesa-lhe.
mas o sol lá fora brinda. aquecendo-a.
defendendo-a assim do mais pequeno golpe.
avança por esta e por aquela rua.
sem urgência para chegar, sem pressa de voltar.
o tempo não pára. ela continua.
observa a multidão harmoniosamente. com tristeza.
entra nesta e naquela casa.
palavras loucas querem sair-lhe da boca.
mas não diz.
espreita por entre as paredes frias e vazias.
traz com ela mais uma angústia.
só lhe apetece sentar naquele banco de jardim.
abrir um livro e saboreá-lo até ao fim.
desorientada. outra vez.
certezas não tem nenhumas.
não pensa no fim do dia.
não pensa se sim.
trabalha para hoje.
abandona-se ao mundo que lhe resta.
defende-se no que pode.
é um dia a mais ou a menos neste delírio em festa.
com os olhos na mãos.
com o coração aos pés.
em que só os pulmões a deixam dobrar mais uma esquina.
como de repente o tempo se desfez.
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