domingo, 13 de novembro de 2011

by: João Pinto

disseram-me que o sol há-de morrer igual a um fósforo que se apaga. é como um fósforo lento, muito lento, que se apagará de qualquer modo. deixando tudo às escuras infinitamente. perguntei se não seria triste vivermos numa noite contínua. disseram-me que seria mais do que triste.
porque seria impossível. até ali, eu com cinco ou seis anos, achara categoricamente que os dias eram para sempre. o tempo entra para dentro do tempo, entretido com nascer e desaparecer. perguntei se podíamos fazer alguma coisa, como alimentar o sol, enviando-lhe as madeiras secas, os móveis velhos, os cadernos da escola estragados. havia tanta coisa para queimar, só precisaríamos de arranjar de arranjar uma máquina muito forte que atirasse para a fogueira as coisas boas de arder. o sol. pensava eu então, era o tempo a arder. ardia e haverá tempo. não haverá nada.

valter hugo mãe

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