domingo, 5 de fevereiro de 2012
é nesses momentos que habita o verdadeiro amor.
há momentos em que tudo pára. não existe percepção de mais nada. só vês única e exclusivamente o olhar de quem sofre. um olhar carregado de dor, embaciado. um olhar baço e sem brilho. de tão cansados e pesados que estão os teus olhos nem os consegues abrir por inteiro. do olhar passa para os gritos vindo de dentro, da tua mais intima alma. a essa podemos chamar de verdadeira, pois é a tua. só tua e única.
são gritos fortes, frios, sólidos, poderosos. de tão robustos que são parecem ganhar "corpo". esse corpo valente e poderoso apodera-se de ti, ficas pesado como pedra. é o momento em que passas de dentro para fora e fazes brotar toda essa dor aglomerada durante anos. dor que deixaste acumular como uma reunião que nunca teve um fim. quando finalmente pareces caír em ti falham-te as pernas, os braços, todo o teu corpo carece de energia. sei que por ti deixavas-te cair. eu sei. essa falta de amor, de carinho e principalmente de cuidado não existe mais na tua profunda mente. logo o teu corpo como única resposta que te sabe dar é a de fraqueza, covardia, medo e agarras-te a tudo o que encontras, mesmo sabendo e entender que não é o melhor. quem nada tem nada teme. estás perdido. sem rumo ou sem mesmo vontade de traçar um novo. encostas-te aqui e ali como uma procura intensa de satisfação seja no que for. num copo de vinho, num cigarro, num corpo de uma mulher, numa noite repentina de prazer. mesmo assim a claridade não surge e a escuridão permanece. dia-a-dia, semana a semana, mês após mês. e mais tarde quando dás por ela no teu quase e único momento lúcido, já passaram anos. uma vida. pedes encarecidamente quase como um suplicar que te abracem para sentires verdadeiramente que não estás sozinho, que não queres estar. não irias suportar tal imagem como um futuro que se aproxima de ti como uma sombra presa e condenada. essa que não se vai embora, pois é interna. mesmo com todo o movimento e agitação tu és capaz de não acompanhar tal mudança. deixas-te ficar na revolta, fechado em ti próprio como se só existisses tu nesta casa. nesta cidade. neste país. neste mundo. é quando a dor retorna e faz-te tombar, em que te sujeitas nem sabes bem a quê. nem como e porquê. mas a verdade é que não encontras o caminho da tua própria salvação. acabas sem querer por ficar desalinhado num descuidado prematuro. pouco sorris, ou quando o fazes é forçado. parece uma espécie de falsa apatia e de contentamento para com a tua realidade. mas é a tua, só tu a sentes e vês dessa forma. só tu a conheces e sabes. mais ninguém a entende ou sente. mas quem olha para ti, posso dizer que se sente as pupilas a dilatar e o corpo a gelar. para não falar da dor no coração quando me caíste nos braços dizendo " não me deixes, nunca me abandones " ou " dói-me tanto o coração, nunca te disse mas dói." e escorriam-te as lágrimas pela face sem parar, continuamente. esse pânico inquietante, perturbador a percorrer-me no sangue. acabamos por nos aquecer num abraço tão poderoso e duradouro, parecia não ter fim. permanecemos assim durante alguns instantes, e é nesses momentos que habita o verdadeiro amor entre um pai e uma filha.
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Muito bom blog! Obrigado por seguires o meu. Vou fazer o mesmo.
ResponderEliminarObrigada. O teu também é muito interessante :)
Eliminaracho que entendi tudo... acho que o meu é parecido com isto mas depois ao leres o meu vais entender...
ResponderEliminarBjos